Carta à mãe de minha filha
São Paulo, 14 de julho de 2005
Talita, como vai?
Em primeiro lugar, quero pedir desculpas por ter ficado tanto tempo sem escrever. Vou lhe contar o motivo, mas não quero que você conte a Lygia.
Quando eu voltei para São Paulo, em 1999, não consegui parar em trabalho nenhum.
Primeiro arrumei aquele emprego num bar, mas após ter lhe contado, saí dele.
Depois montei a pastelaria, mas após ter lhe contado, fechei-a.
Arrumei um emprego num bar, no final do ano, mas após ter lhe contado, o bar fechou.
Consegui um emprego num restaurante, mas após ter lhe contado, saí dele.
Comecei a trabalhar num restaurante, mas quando você veio, no início do ano 2000, fui mandado embora na mesma semana.
No fim do ano, comecei a trabalhar num bar, mas após ter lhe contado, fui mandado embora.
Fiquei nove meses sem emprego e quando descolei um trampo numa livraria, após ter lhe contado, fui mandado embora.
Comecei a achar que eu havia sido amaldiçoado por você, por sempre sair do emprego após lhe contar. Tanto que fiz um teste. Em 2002, passei um ano trabalhando num bar e não lhe contei nunca. Para mim, era a “prova” de que eu não deveria lhe contar que estava trabalhando, pois era a única maneira de continuar nos empregos.
E foi assim até 2004, quando eu lhe telefonei dizendo que queria uma conta para lhe mandar dinheiro e você me deu o número errado. Sabe o que aconteceu depois disto? Na mesma semana, ao chegar ao trabalho, fui demitido.
Para mim, era prova mais do que suficiente de que eu não deveria nem sequer manter mais contato com Governador Valladares, pois eu nunca conseguiria absolutamente nada em minha vida se continuasse ligando aí ou mantendo alguma forma de contato.
Mas sinceramente não sou supersticioso e não acredito que um ser humano tenha a capacidade de amaldiçoar outro. De qualquer forma, eu volto a lhe pedir que reze para mim, para que as coisas dêem certo em minha vida, pois só assim terei condições de ajudar financeiramente na criação da Lygia.
É o mínimo que peço, já que não tenho de você nem da sua família o tratamento respeitoso que eu deveria ter como pai da Lygia.
Muito me espanta também o fato de nesse ano vocês não terem tido um pingo de curiosidade em saber o que aconteceu comigo, mais uma prova do seu interesse em me manter o mais longe possível da minha filha. Mas é algo que vocês nunca vão conseguir fazer, a não ser que me matem.
Pergunto-me sempre: o que foi que fiz para sempre ser tratado por você e por sua família como lixo?
Será que o problema é que sou pobre, não sou evangélico? Vocês parecem descontar todo o ódio contra a humanidade em cima de uma pessoa, que sou eu.
Mas sempre esquecem que sou o pai da Lygia e que sempre serei, para sempre. Meu nome está nos documentos dela e essa sua atitude só vai causar sempre estragos e mais estragos.
Eu não peço muito. Sempre o que pedi foi um mínimo de respeito, foi ser tratado simplesmente como pai de Lygia.
Sou pobre mas não sou vagabundo.
Não tenho religião mas não sou canalha, pelo contrário, sou um sujeito muito decente.
Seu eu e você terminamos nosso relacionamento é porque nosso gênios não eram compatíveis. Não te abandonei porque eu queria o seu sofrimento, eu te abandonei porque eu não queria sofrer mais. Ninguém é obrigado a ficar ao lado de uma pessoa que lhe faz sofrer. E a maior prova de que eu sofria é que eu sofro até hoje.
Eu queria nunca ter lhe conhecido, como já disse várias vezes. Queria nunca ter tido uma filha com você. Você deveria ter se relacionado com uma pessoa do seu meio e com o seu gênio. Ter me colocado dentro de seu apartamento foi o maior erro de sua vida. Mas para esse erro não continuar sendo uma tormenta eterna, basta um mínimo de mudança da sua conduta para comigo, na condição de pai da sua filha.
E a primeira coisa que lhe peço é que deixe a Lygia ler as cartas que eu enviar a ela e deixe que ela me responda.
Em segundo lugar, peço pelo amor que você tem a Deus, que não tenha maus pensamentos sobre mim. Que torça por mim e reze por mim, para que eu sempre tenha condições de cuidar financeiramente da Lygia.
Assim como espero que você tenha boa saúde sempre para continuar cuidando de minha filha e não a maltrate nunca.
Acho que é isso.
Voltarei a escrever, futuramente.
Abraço a todos,
Fiquem com Deus,
Rynaldo.
Rynaldo Papoy