CARTA AO AMIGO CARLOS JOSÉ DOS SANTOS (*)
Carlos.
Queluz, 14 de dezembro de 1876
Muita atrapalhação, alguns afazeres, alguma moléstia e alguma preguiça, não pouca, não me permitiram prontificar o drama Os Inconfidentes, como eu pretendia, e tínhamos conversado, para a Sociedade Dramática de São Miguel de Piracicaba, dá-lo a 2 de dezembro do corrente. O trabalho, aliás, não era insignificante.
Relendo esse drama, achei-o soberbamente defeituoso e carecendo de ser refundido completamente. E não podia sair coisa muito boa. Melhor do que ninguém, sabes com que pressa, e em que circunstâncias manipulei semelhante droga. Agora desejo saber se em qualquer outro tempo, serve. Se servir, porei mãos à obra e lá para janeiro estará pronto; assim como também poderei fornecer, para o mesmo Teatro, A Cativa Isaura, que está prontinho, ou outra qualquer composição dramática, que me sair da cachola.
Conversa, pois, com os interessados a esse respeito (parece-me que são os Velosos) e manda-me resposta com a brevidade que puderes. Agora, outro assunto:
Quando estiveres com o nosso bom vizinho, o meu amigo e confessor, o piedoso anacoreta D. Frei Sebastião de Santa Perpétua (¹), queira apresentar-lhe os meus respeitos e pedir-lhe sua santa bênção para este seu humilde irmão e servo no Senhor assegurando-lhe que nunca dele me esqueço em minhas orações e práticas devotas, e de jejum e abstinência.
Comunica-lhe também a notícia de que este seu humilde fâmulo está compondo uma jaculatória mui devota e pede sua benévola autorização para que este fraco produto lhe seja dedicado, e debaixo de seu apostólico patrocínio possa correr mundo.
Adeus, Carlos, goza saúde e prosperidade, e aceita os protestos de sincera estima e afeição do teu amigo velho.
Bernardo Guimarães
______________________________
Notas Explicativas:
(*) Sobre o drama teatral Os Inconfidentes, que estava escrevendo, o qual ainda achava "defeituoso"
(¹) O frei Sebastião de Santa Perpétua, citado na carta, nunca existiu. Trata-se de uma brincadeira de autor com um outro seu amigo, o capitão Augusto Pinto, oficial da Secretaria da Instrução Pública.
Fonte: site de Bernardo Guimarães <http://www.geocities.com/Athens/Olympus/3583/cartas.htm>.