Aluisio de Azevedo a Afrânio Peixoto

Nápoles, 9 outubro 1909.

Meu novo e grande amigo - Creio que dois bons cartões postais valem bem uma carta vulgar, e é por isso que esta aqui vai pejada de saudades a sua procura, para lhe agradecer não tanto os sábios conselhos do médico, mas a carinhosa bondade com que V. de longe pensa nas misérias desta minha passagem de outono para inverno. E não sei com que pé entre na extrema estação; no direito tenho pé de galo, e no esquerdo gota. Vou seguir os seus conselhos, apesar de que esteja convencido de que a minha bexiga não é nenhuma mulher caprichosa e sim uma pobre velha cansada e achacada. Enfim, como também há velhas caprichosas, não afrouxarei com ela. Se puder, mande-me a receita do iodureto para o meu artritismo, que lhe ficarei muito grato. - Escrevi ontem ao Primitivo Moacir, agradecendo o ter-nos aproximado, e disse-lhe como foi o coup de foudre de nossa amizade. E é esta a única vantagem deste Consulado sobre os dois últimos que curti, é arribarem por aqui, de vez em quando, alguns compatriotas, entre os quais pode, como agora aconteceu, aparecer um que corresponde a um prêmio grande, apesar de que nessa loteria, como em todas as outras, haja poucos prêmios e muitos números em branco. Ora eu, que só na leitura e numa boa palestra encontro (e não é de hoje) verdadeira distração, imagine como achei curta a sua passagem por aqui! O que não daria eu para, uma vez por semana pelo menos, encontrar-me com alguns velhos companheiros que já não vejo há oito anos! Tristezas do exílio! Precalços da amizade! Saudades da terrinha! - A senhora Lúquez muito se recomenda a Você. Até breve. -- Aluízio.

Aluisio de Azevedo

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