Minha querida Calúrnia,

               É incrível como desejo com impaciência seu regresso, tanta é a ternra de minha afeição e tão desacostumadou estou de uma separação! Fico deitado e acordado a maior parte da noite pensando em você e (para usar uma expressão muito comum, mas muito verdadeira) meus pés levam-me por sua própria vontade ao seu apartamento, naquelas horas em que eu costumava visitá-la. Contudo, não a encontrando lá, volto com muita tristeza e desapontamento, como um amante desprezado. O único descanso que minha ansiedade conhece é quando estou ocupado no tribunal e nas causas de meus amigos. Avalie como deve ser miserável a vida de quem não encontra repouso senão no trabalho e não encontra consolo senão em uma multidão.

Plínio, o Jovem

Do livro: "Cartas do coração - uma antologia do amor", org. Elisabeth Orsini, Rocco, 1999, RJ

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