Natal, 20 de Agosto de 1999

Meus olhinhos,

Viajo. antes de adentrar sertões, margeio o litoral e vejo o mar. Penso em você. Chove uma chuva fina, sem demora. Constante é o movimento das ondas, da chuva e do carro. Em desalinho só o meu pulsar. Doce é a tua imagem e a água da chuva. Salgadas são as águas do mar e dos meus olhos, que são uma só. Instintivamente acelero como se buscasse algo. E digo isso como se não soubesse o que busco... busco você, querida... vejo-me água suspensa na neblina, gota d'água de chuva fina, perdida no espaço orvalhado, mas olho o mar e me sinto o Atlântico ao teu lado.
Sou essa chuva fina, querida, essa chuva que nos teus desencantos, molha o teu rosto para esconder teu pranto. Sou onda quebrando na praia, onde morro e renasço, mas sou também Vaga e Tormenta quando te abraço... longe de ti, amor, sou como uma duna errante, areia dançando ao Vento... sou conchinha de praia, jogada, ao relento... mas me sinto braços de arrecifes, te aquecendo.  ( e esse litoral que não termina...). Olho a margem e me sinto margem virgem de uma praia nativa, ouvindo o lamento de Calipso, do mar cativa. Sem você, sou como um farol à beira-mar, se apagando... mas o meu amor por você é uma península, que entra no mar, te buscando... Viajando e fugindo de mim, fugindo da saudade para encontrar a solidão, tudo o que queria era ouvir de você: "volta, amor!", e eu voltaria... Sou esse mar em calmaria, caravela pedindo ventania, essa nau frágil a esmo navegando, para ser em seguida, Bóreas e Zéfiro te beijando... sou ao mesmo tempo, querida, essa baixamar te esperando e preamar de janeiro, te amando... me espera, amorzinho, que eu volto. Eu sempre volto.
 
Teu,
 
(pensando ser culpa minha do mar ser salgado,)


Antoniel Campos
 
 
 

« Voltar