Meus olhinhos,
Viajo. antes de adentrar sertões, margeio o litoral e vejo o
mar. Penso em você. Chove uma chuva fina, sem demora. Constante é
o movimento das ondas, da chuva e do carro. Em desalinho só o meu
pulsar. Doce é a tua imagem e a água da chuva. Salgadas são
as águas do mar e dos meus olhos, que são uma só.
Instintivamente acelero como se buscasse algo. E digo isso como se não
soubesse o que busco... busco você, querida... vejo-me água
suspensa na neblina, gota d'água de chuva fina, perdida no espaço
orvalhado, mas olho o mar e me sinto o Atlântico ao teu lado.
Sou essa chuva fina, querida, essa chuva que nos teus desencantos,
molha o teu rosto para esconder teu pranto. Sou onda quebrando na praia,
onde morro e renasço, mas sou também Vaga e Tormenta quando
te abraço... longe de ti, amor, sou como uma duna errante, areia
dançando ao Vento... sou conchinha de praia, jogada, ao relento...
mas me sinto braços de arrecifes, te aquecendo. ( e esse litoral
que não termina...). Olho a margem e me sinto margem virgem de uma
praia nativa, ouvindo o lamento de Calipso, do mar cativa. Sem você,
sou como um farol à beira-mar, se apagando... mas o meu amor por
você é uma península, que entra no mar, te buscando...
Viajando e fugindo de mim, fugindo da saudade para encontrar a solidão,
tudo o que queria era ouvir de você: "volta, amor!", e eu voltaria...
Sou esse mar em calmaria, caravela pedindo ventania, essa nau frágil
a esmo navegando, para ser em seguida, Bóreas e Zéfiro te
beijando... sou ao mesmo tempo, querida, essa baixamar te esperando e preamar
de janeiro, te amando... me espera, amorzinho, que eu volto. Eu sempre
volto.
Teu,
(pensando ser culpa minha do mar ser salgado,)