Maricá, 07 de outubro de 1999

Heloisa querida,

       devido a mudança de endereço (agora estou em Maricá) às vezes demoro a pegar correspondência na minha antiga CP, no Rio; daí só agora ter recebido e lido o Suplemento de MG, de agosto passado, com sua entrevista concedida a Ítalo Moriconi, a respeito dos 26 Poetas Hoje e d'Esses Poetas.
        Gostei não só de saber um pouco mais sobre os princípios que nortearam a elaborado das mesmas, como também da pertinente colocação feita por você: creio que a Geração 70, em poesia, privilegiou exatamente o confronto, sobretudo por parte das mulheres, ora de forma mais ou menos "briguenta", como você coloca ao mencionar Ana Cristina e eu. E não era só pela resistência ao regime de exceção, na época, mas por postura mesmo de vida — tanto que ate' hoje esta característica é minha marca registrada. Sem desmerecer a poesia atual, de modo algum, acho-a mais difusa, estética e conceitualmente falando, até pelos poetas incorporarem a ela recursos multimidea, ou darem nova roupagem a propostas vanguardistas das décadas de 50 e 60.
        "A dimensão da expressão literária não é apenas um gozo. Ela é  mais do que isto. Ela pode ser um tiro" (1). Exatamente o que penso, inclusive um tiro inofensivo de festim que, sem ferir mortalmente ninguém, pode ensejar reflexão, com o barulho do seu estampido. Amanha estará seguindo para você meu livro: "Sangue Cenográfico", em que você fez um dos prefácios, junto com nossa revista cultural  impressa Blocos.
        Dia 25 estarei em SP participando do 1º Seminário On Line de Literatura e tentarei mencionar a HP (2) que você me mandou
        Meu abraço,

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(1)  A HP mencionada é da PAAC - Programa Avançado de Cultura Contemporânea <http://acd.ufrj.br/pacc/>
(2)  Trecho final do artigo publicado no Suplemento Literário de Minas Gerais (Secretaria de Cultura)
(3)  Esta carta foi enviada a Heloisa Buarque de Hollanda, por e-mail.

 
 
 
 

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