Heloisa querida,
devido a mudança de endereço
(agora estou em Maricá) às vezes demoro a pegar correspondência
na minha antiga CP, no Rio; daí só agora ter recebido e lido
o Suplemento de MG, de agosto passado, com sua entrevista concedida a Ítalo
Moriconi, a respeito dos 26 Poetas Hoje e d'Esses Poetas.
Gostei não só
de saber um pouco mais sobre os princípios que nortearam a elaborado
das mesmas, como também da pertinente colocação feita
por você: creio que a Geração 70, em poesia, privilegiou
exatamente o confronto, sobretudo por parte das mulheres, ora de forma
mais ou menos "briguenta", como você coloca ao mencionar Ana Cristina
e eu. E não era só pela resistência ao regime de exceção,
na época, mas por postura mesmo de vida — tanto que ate' hoje esta
característica é minha marca registrada. Sem desmerecer a
poesia atual, de modo algum, acho-a mais difusa, estética e conceitualmente
falando, até pelos poetas incorporarem a ela recursos multimidea,
ou darem nova roupagem a propostas vanguardistas das décadas de
50 e 60.
"A dimensão da expressão
literária não é apenas um gozo. Ela é
mais do que isto. Ela pode ser um tiro" (1).
Exatamente o que penso, inclusive um tiro inofensivo de festim que, sem
ferir mortalmente ninguém, pode ensejar reflexão, com o barulho
do seu estampido. Amanha estará seguindo para você meu livro:
"Sangue Cenográfico", em que você fez um dos prefácios,
junto com nossa revista cultural impressa Blocos.
Dia 25 estarei em SP participando
do 1º Seminário On Line de Literatura e tentarei mencionar
a HP (2) que você me mandou
Meu abraço,
____
(1) A HP mencionada é
da PAAC - Programa Avançado de Cultura Contemporânea <http://acd.ufrj.br/pacc/>
(2) Trecho final do artigo
publicado no Suplemento Literário de Minas Gerais (Secretaria de
Cultura)
(3) Esta carta foi enviada
a Heloisa Buarque de Hollanda, por e-mail.