"LETRAS CLÁSSICAS", POR HENRIQUE CAIRUS

Professor Dr., Coordenador do Departamento de Letras Clássicas da UFRJ (Pós-Graduação), ensaísta, poeta, co-editor de CALÍOPE: Presença Clássica, revista do Programa de Pós-Graduação em Letras Clássicas e do Dep. de Letras Clássicas da UFRJ. Na Internet, veicula a lista: PGclassicas - Pós-Graduação em Letras Clássicas - UFRJ e tem site pessoal: http://www.geocities.com/henriquecairus/

Coluna da 2ª quinzena de fevereiro
(próxima coluna: 04/03)

Alguns limites das especializações

Nossa contemporaneidade comemora ou vitupera as especialidades, ora acalmando-a como um baluarte da modernidade tecnológica, ora atribuindo-lhe as mazelas decorrentes da carência de um conhecimento global.

Nesse debate em que o senso comum une-se às falas autorizadas pelo establishment, sobressai como exemplo e demonstração a área da medicina. Se erra um especialista, é por falta de uma perspectiva holística, e se erra um genericista, não é senão por sua falta de conhecimento específico. E nem mesmo o trabalho em conjunto deles funciona bem, para dizimar tais críticas.

Apesar de a medicina ser o contumaz pivô dessas reflexões, elas também têm suas gerências nas áreas ditas de “humanidades” (da qual se exclui, por convenção e erro, a medicina), onde são agravadas – mais do que alhures – por questões de cunho epistemológico.

Em nome de uma identidade de área, que pode ser confundida com um corporativismo, historiadores, sociólogos, antropólogos, lingüistas e outros pensadores produzem e reproduzem práticas que contradizem seus discursos acerca dos emolumentos da trans, multi ou pluridisciplinaridade. Contradizem-nos, é claro, mas com eles convivem tranqüilamente, reafirmando a contraditoriedade da condição humana, e gerando leigos-profissionais e profissionais-leigos.

Como contrapartida de uma apologia do multi-pluri-trans, que poderia parecer despontar aqui, áreas do conhecimento que levam a termo seu projeto de outras possibilidades de recortes, como aquele feito pelo objeto, e não pela teoria.

Há uma clara perda de consistência nesse tipo de recorte, mas não se deveria poder negar que essa redução de substância crítica é quase completamente oriunda de uma oposição realmente maleficamente excludente que vem sendo construída e que assim distingue os genericistas dos especialistas de determinada área do saber.

Por outro lado, e para encerrar nossa conversa de hoje, é necessário também criar-se uma identidade de área, que gere responsabilidades de práticas e teorias, e que autorize determinados profissionais que conhecem especificamente um determinado instrumental.

Eis a palavra chave que deveria reger, sem preconceitos excludentes, esse debate que já dura tanto – e que parece sempre retornar sob nova forma: o instrumental. Essa deveria ser a palavra de identidade e também de união. Preservemos, portanto, e ampliemos esse nosso instrumental e permitamos que ele mesmo nos limite e nos amplie em direção ao diálogo necessário e fecundo.

« Voltar