"LETRAS CLÁSSICAS", POR HENRIQUE CAIRUS
Professor Dr., Coordenador do Departamento de Letras Clássicas da UFRJ (Pós-Graduação), ensaísta, poeta, co-editor de CALÍOPE: Presença Clássica, revista do Programa de Pós-Graduação em Letras Clássicas e do Dep. de Letras Clássicas da UFRJ. Na Internet, veicula a lista: PGclassicas -
Pós-Graduação em Letras Clássicas - UFRJ e tem site pessoal: http://www.geocities.com/henriquecairus/
Coluna de nº 20 - 1ª quinzena setembro
(próxima coluna: 19/09)
Por um passado melhor
Todos tivemos paralelamente dois tipos de aulas de história: a burocrática escolar e uma outra, muito mais interessante e pretensamente verdadeira, que era sussurrada aos nossos ouvidos muito freqüentemente pelos próprios professores de história. A primeira história oscilava entre o espírito de Leopold von Ranke e a verve economicista de um marxismo apressado. A segunda, também; embora rejeitasse qualquer traço de triunfalismo ali colocado por veleidades patrióticas, e substituía cada um desses elementos por um acentuado derrotismo.
O que resultou disso foi um imaginário de pátria que hesitava entre o brado de um Imperador vigoroso e heróico e o ato covarde de um soberano decadente e acovardado pela iminente derrota pelas tropas napoleônicas. O Brasil era tanto a nação destinada ao futuro glorioso fundado no orgulho de um passado imaculado quanto o país covarde que humilhou o Paraguai em nome da Inglaterra e libertou os escravos porque isso teria sido um bom negócio.
São muitas, de um lado e de outro, as visões simplistas e mesmo maniqueístas que sobretudo desnorteavam a todos os que nos interessamos pelo passado como uma dimensão identitária fundamental da consciência do existir.
Fazia e faz muita falta a circulação maior de um saber recluso às teses universitárias que pudesse de fato contribuir para a compreensão de nossa identidade, sem ferir as inteligências mesmo a menos pretensiosas.
Quando o passado parecia irremediavelmente burocratizado ou depreciado, quando os sobrados da Rua Ouvidor e os museus pareciam destinados eternamente ao ocultamento e às turbas infantis, vítimas das lições desarticuladas de uma docência comumente mal preparada, nesse momento de desesperança, uma série de iniciativas de altíssima qualidade, saídas das retraídas instâncias acadêmicas, sopram o espírito das letras por sobre as cabeças da classe média consumidora das capas coloridas das bancas de jornais.
Mais por necessidade procrastinadamente satisfeita do que por mero deleite, aparecem, neste nosso momento, os nomes que já conhecíamos tão bem ali, onde antes jamais tinham lugar.
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