Algumas funções do prazer
P/ Leila Miccolis
As coisas e as pessoas e os opúsculos
e talvez porque não tenha entendido o verso
este verso ignóbil que sai do poema
como um esperma e se perde sem função
ou a função talvez esteja no próprio gozo
função alheia ao credo
de se gozar com o gozo sem mistificações
embora Santa Teresa DÁvila gozasse
melhor e maior gozo e entrasse ao infinito
e nós somos humanos de imensos pecados
suburbanizados e atrofiados nas emoções
ou porque haja gozo demais em outros poemas
diluidores do acaso, demais rolando por
Marias, Ivetes, Suzana, Glórias e Anas e Cristinas,
ou mesmo Janine, safo de nossa era pós-moderna,
e tenha havido por demais, e ainda haja no haver
picas, bocetas, cus, pentelhos, pés, seios nos versos
que os façam parecer de estranho gosto alheio
de se gozar com o gozo sem mistificações
e Hilda mandou a sociedade se foder sem gozo
para que fique esta coisa igual e burocrática
com os mesmos boçais olhando-se para o espelho
até atrofiarem-se na imagem que acham que têm,
Samuel, o velho Beckett diria que preferiria ficar
peidando, pois peidar é um ato de prazer
censurado e proibido é um ato subversivo,
um atentado ao pudor despudorado á aqueles
que visitam sítios de pornografia e descem ao
limite obscuro de se gozar e da afronta ao gozo
do comercio de se gozar com o gozo e alienar-se
entre picas, bocetas, cus, pentelhos, pés, seios e
excrementos como de um retorno ao primitivo
e a poesia marginal nunca esteve a margem
sempre foi uma grife daqueles que ouviram o galo
mas não sabem como Leila e Glauco e Ana Cristina
onde este galo se punha às seis horas da manhã
e você pagou o preço de estar a margem do que
estavam fazendo a grife do centro da margem
por ter feito compreensão do ato de se gozar
a desalienação do gozo como um gozo de gozar
e dos policiamentos ideológicos (conchavo) para
ser gozar dentro do espaço limitado (como se
gozar tivesse parâmetros) da castidade
que apenas simulam o gozo sem gozo
daqueles que pensam que a poesia flui
apenas no poema.