ERIC PONTY

               Algumas funções do prazer

                                               P/ Leila Miccolis

        As coisas e as pessoas e os opúsculos
        e talvez porque não tenha entendido o verso
        este verso ignóbil que sai do poema
        como um esperma e se perde sem função
        ou a função talvez esteja no próprio gozo
        função alheia ao credo
        de se gozar com o gozo sem mistificações
        embora Santa Teresa DÁvila gozasse
        melhor e maior gozo e entrasse ao infinito
        e nós somos humanos de imensos pecados
        suburbanizados e atrofiados nas emoções
        ou porque haja gozo demais em outros poemas
        diluidores do acaso, demais rolando por
        Marias, Ivetes, Suzana, Glórias e Anas e Cristinas,
        ou mesmo Janine, safo de nossa era pós-moderna,
        e tenha havido por demais, e ainda haja no haver
        picas, bocetas, cus, pentelhos, pés, seios nos versos
        que os façam parecer de estranho gosto alheio
        de se gozar com o gozo sem mistificações
        e Hilda mandou a sociedade se foder sem gozo
        para que fique esta coisa igual e burocrática
        com os mesmos boçais olhando-se para o espelho
        até atrofiarem-se na imagem que acham que têm,
        Samuel, o velho Beckett diria que preferiria ficar
        peidando, pois peidar é um ato de prazer
        censurado e proibido é um ato subversivo,
        um atentado ao pudor despudorado á aqueles
        que visitam sítios de pornografia e descem ao
        limite obscuro de se gozar e da afronta ao gozo
        do comercio de se gozar com o gozo e alienar-se
        entre picas, bocetas, cus, pentelhos, pés, seios e
        excrementos como de um retorno ao primitivo
        e a poesia marginal nunca esteve a margem
        sempre foi uma grife daqueles que ouviram o galo
        mas não sabem como Leila e Glauco e Ana Cristina
        onde este galo se punha às seis horas da manhã
        e você pagou o preço de estar a margem do que
        estavam fazendo a grife do centro da margem
        por ter feito compreensão do ato de se gozar
        a desalienação do gozo como um gozo de gozar
        e dos policiamentos ideológicos (conchavo) para
        ser gozar dentro do espaço limitado (como se
        gozar tivesse parâmetros) da castidade
        que apenas simulam o gozo sem gozo
        daqueles que pensam que a poesia flui
        apenas no poema.