Por anos estive cego. Lia somente
os clássicos e renomados poetas, não que não devam
ser lidos e apreciados, mas esquecia os marginais, os de vanguarda, os
da periferia, ou mais precisamente, os contemporâneos.
Julgo que a distância
dos centros culturais e a falta de boas livrarias, tenha contribuído
para o fato. Então, veio a Internet, que por bytes tortos, levou-me
a conhecer e admirar poetas das mais variadas correntes e estilos, mas
que em última análise, falavam com a voz da minha geração.
Foi no meio de Bonvicinos, Anas, Leminskis, Carlitos, Fredericos, Alices, Aschers, Heitores, entre tantos, que encontrei Leila Míccolis.
Considero Leila daquelas que
escrevem com bisturi, daquelas que carregam o coração nas
entranhas, daquelas que navegam sem remos, daquelas que tem luz própria,
estrela única.
Que força! Mulher!
Não citarei poemas seus, vou, modestamente, homenageá-la com este poema:
(harpia
não pia,
devora)
íris
cor de sóis,
voz
cor de vinho,
sendas
— tempestades
setas
desferidas
rocha?
rupestre
sente
duro ventre
fogo líquido,
errata:
cristal de
palavra fulgurante
exposta ferida
fera
da terra mulher
ou avencas
(olhos macerados)
cor de paixão
dorida