ENTREVISTA

a Kelly Cristine Ribeiro, da Casa de Arabella


LEILA MÍCCOLIS - A PEQUENA NOTÁVEL

No alto de seus 1,30m de altura, Leila Míccolis se multiplica, faz poesia, peça de teatro, novela e até música. Co-autora das novelas Kananga do Japão, Barriga de Aluguel e Mandacaru, em conversa com a Casa de Arabella, fala sobre a profissão Escritor, seu trabalho e outras coisas mais. Sempre mais, como convém à artista, profissional e pessoa que é.

Casa de Arabella - Você escreveu a novela Barriga de Aluguel com Glória Perez, suas poesias são, de modo geral, críticas e algumas abordam temas polêmicos como homossexualismo. Ainda, segundo outros escritores e leitores, o seu trabalho é audacioso e cortante. É assim que você se traduz, uma escritora polêmica?
• Leila - Perguntinha difícil esta, heim??? até porque uma escritora polêmica não se traduz tão facilmente assim... (risos) Mas, vamos lá. Parece que você quer saber a minha interpretação de escritora polemica. Creio que é alguém que, com sua literatura, questiona os padrões de comportamento com os quais não concorda, instigando as pessoas a fazerem uma revisão de valores também.

Casa de Arabella - Está relacionado ao papel social da arte, Como elemento de discussão e conscientização?
• Leila - COM CERTEZA!!! Embora tenha muito prazer no ato de escrever, não vejo a literatura dissociada do contexto social em que ela se insere.

Casa de Arabella - Seus trabalhos são muito diversificados, de novela a prosa e poesia, passando ainda por cinema e teatro. Como é trabalhar com diversos tipos de linguagem?
• Leila - Fascinante!!! Eu ADORO escrever e aprender com cada gênero literário. Nesta área eu gosto da diversificação, porque acho que me expande como autora, me dá uma maior consciência da amplitude profissional de eu um escritor e abre mais portas para a veiculação dos meus trabalhos.

Casa de Arabella - Onde você se sente mais a vontade?
• Leila - Na poesia. A poesia é minha "menina dos olhos", minha paixão, minha vida, até por ela ser tão depreciada, tão malquista ainda. Na poesia sou mais mal-comportada, a transgressão é maior. Ultimamente também tenho me deliciado com as crônicas que escrevo para a Internet (semanalmente em "Crônica do Dia" (CE) e quinzenalmente em "Proa da Palavra" (RS). Gosto do cotidiano, do dia-a-dia que parece tão sem importância e comum, mas que é tão incrível, a cada gesto.

Casa de Arabella - O que você ainda não fez? (eu só não encontrei letra de música no teu site).
• Leila - Tenho letra de musica também... de parceria com Tony
Pereira e "O Espirito da Coisa"... risos. Não sei o que não fiz.
Em termos de literatura, gosto de experimentar tudo, de correr riscos, de enfrentar desafios.

Casa de Arabella - Percebe-se claramente, através do seu próprio site, a Leila Míccolis militante, que tem projetos relacionados ao cinema, cria discussão em torno da profissão escritor, entre outras coisas. Você vê boas perspectivas para o desenvolvimento da arte, de modo geral, no Brasil?
• Leila - Depende do meu estado de humor e do grau de dificuldade à minha frente. Às vezes acredito nelas (nas boas perspectivas), às vezes tenho vontade de sair correndo... Acho que o Brasil tem um enorme potencial criativo... O problema não é o desenvolvimento artístico. É o mercado de trabalho. Sem que a profissão seja legalizada, ele vira feira livre... e nem isso, porque feira livre tem regras comerciais rentáveis, e uma tabela de... Nós, nem isso temos.

Casa de Arabella - E o Brasil social e político? Quais são suas principais impressões?
• Leila - Olha, acho que esta pergunta daria um romance. Mas, tentando ser o mais sucinta possível, sinto falta da efervescência dos anos 70 -- minha geração poética -- do "clima" de desobediência civil, da ousadia das propostas, das discussões maravilhosas sobre política de corpo, da conscientização dos mecanismos sutis de manipulação. Hoje, Com o peso de dois golpes castrativos: a ditadura e a AIDS, creio que demos um retrocesso legal... Mas, como quem cala consente, continuamos soltando o verbo.

Casa de Arabella - Até onde arte e política se misturam?
• Leila - É... ( risos ). Até hoje a poesia é considerada por muitos não um gênero literário, mas um gênero confessional, autobiográfico. Parênteses: pronto, está aí um gênero pelo qual eu nunca incursionei: a autobiografia... Fecho parênteses. Então, na cabeça das pessoas, as coisas se misturam muito: vida e ficção. Temos que ter certo distanciamento -- não só, critico como também emocional; mas, pessoalmente, acho que vida e arte precisam ter certa coerência, caminharem pelo menos paralelas, na mesma direção. Não creio em discursos libertários provindos de autores reacionários. Pero que los hay los hay...

Casa de Arabella - O seu primeiro livro foi lançado em 1965, no ano seguinte ao golpe militar. Onde você estava naquela época?  Estava de algum modo presente nas movimentações estudantis e artísticas que marcaram esse período?
• Leila - Participei, a meu modo... Meu tamanho de "pequena
notável" (1.30 m.) era um perigo para qualquer movimento
clandestino... risos. Então, nem me deixavam chegar perto, em nome da segurança... deles. Mas, era impossível não tomar partido. Eu estudava direito na Faculdade Nacional, a do CACO... tínhamos policia entrando nas salas a todo momento... Minha desilusão com o direito começou aí. Fiz toda a faculdade durante este tenebroso período, em que não havia leis... ou melhor, as leis eram de exceção. O jeito era entrar de sola na poesia, o que não era tão tranqüilo assim porque, quem tinha um mimeógrafo naquela época, podia ser taxado de subversivo e perseguido (a literatura de mimeógrafo era como se fosse uma bomba caseira)... Acho que todos nos fizemos o que pudemos e revidamos com o que tínhamos na mão: paus, pedras ou canetas.

Casa de Arabella - Algum momento em especial?
• Leila - Meus poemas eram muito censurados. Meus amigos
eram muito perseguidos. Nicolas Behr (em Brasília) teve toda
sua biblioteca de poetas marginais (eu inclusive e uma penca de gente) confiscada pela policia. Era um clima de terror. Na época eu escrevia para o Suplemento Literário da Tribuna da Imprensa e fiz uma matéria que ficou meio famosa no meio poético. A Tribuna saía com páginas e páginas em branco para mostrar o papel da censura... Quando o Suplemento fez 7 anos Maria Amélia Mello me perguntou se eu faria uma matéria falando de tudo isto. E eu fiz... Enfim, de omissão ninguém pode me acusar.

Casa de Arabella - Existe um senso comum sobre a juventude daquela época e a de agora. Sobre a juventude que era revolucionária e queria mudar o mundo e a de hoje, extremamente individualista e consumista. Você acredita que seja mesmo assim? Até que ponto?
• Leila - Bom, é inegável que existem grandes diferenças, até
porque as circunstancias históricas também são diversas. Em
68/70 a gente precisava viver com mais intensidade, porque
tínhamos consciência de que poderíamos não estar vivos no dia seguinte. Hoje, não existem fantasmas tão ameaçadores assim (pelo menos, em tese...). Mas eu não vejo a juventude de hoje desta forma tão superficial. Acho que, se há muita gente consumista, também há muita gente consciente -- como em toda as épocas. Sem duvida, duas décadas de silêncio criam um grande abismo mas não intransponível. Afinal, para que serve a construção de pontes?

Casa de Arabella - Sobre a profissão escritor: o que você acha que falta para o escritor ser encarado como um profissional?
• Leila - Leis... Volto a dizer: sem regulamentação da profissão,
ela não existe. A lei de direitos autorais é piada. Escritor não
tem controle da comercialização de seus textos, principalmente se são de poesia. A maioria acha que ainda está fazendo grande favor divulgando o autor e sequer tem a cortesia de pedir autorização para isto. Até que ponto atitudes como estas homenageiam alguém ou perpetuam arbitrariedades? Surpresas do gênero não acontecem só no Brasil. Consto de obras publicadas na Franca, no México, em Portugal e nos Estados Unidos, sem NUNCA ter dado permissão. Acho isto uma vergonha.

Casa de Arabella - Qual a sua visão do atual processo de adequação da cultura ao mercado?
• Leila - Começam a surgir agora firmas (principalmente com
poetas no meio) dispostas a captarem recursos para mega-eventos poéticos -- e a poesia é, de todas as áreas, a mais difícil de ser "adequada ao mercado", até por ser a mais irreverente... Inclusive, temos uma série de "recomendações"
contratuais quando participamos de algumas dessas iniciativas: nada de palavrão, de visões extremistas ou pessimistas; também nos dão uma lista de temas preferenciais, etc. etc. etc... Mas, mesmo com todas os cerceamentos, aplausos para esses incentivadores da poesia, ainda poucos e raros.

Casa de Arabella - Para que ela aconteça, é preciso ser
vendável/consumível?
• Leila - A tendência é esta, o que é perfeitamente compreensível. Se não for assim, não haverá interesse mercadológico. Foi exatamente por purismos ideológicos que a poesia se afastou da realidade, dando chance a falsos slogans como: "poesia não vende". Agora: "vendável" e/ou "consumível" não precisa ser sinônimo de "pasteurizada" ou "servil". Acho que poesia inteligente vende, principalmente quando alia o humor a uma contestação sagaz.

Casa de Arabella - Como a literatura está se saindo diante desse quadro?
• Leila - Não temos ainda muitos autores de best-sellers, até porque escritor quer que o sucesso "caia do céu". Ator leva seu book para todas as pessoas que podem lhe dar emprego; escritor
(principalmente poeta) sonha que alguém lhe procure para oferecer uma grande oportunidade, como a publicação gratuita
de seu livro, com 50.000 de tiragem. Lógico que vai continuar
esperando... É preciso que a mentalidade dos escritores mude, individualmente, para que alguma coisa melhore em termos coletivos.

Casa de Arabella - Em relação ao crescimento da mídia eletrônica (CD-ROM, Internet, etc), acredita que ela realmente vai "pegar" para edição e publicação de obras literárias?
• Leila - Acho que são dois mercados que não competem: a edição virtual e a impressa. Eu não gosto de ler nenhum texto grande na tela. Me cansa demais. Como eu, muita gente. Alem do mais, adoro livros, gosto de folhear, escrever na margem, tenho prazer em mexer com papel. Escrever a mão me delicia (poesia, principalmente). Então, penso que um meio não inibe outro, só acrescenta.

Casa de Arabella -. Conhece os livros eletrônicos? Você teria um?
• Leila - Conheço sim, lógico. Não, não teria. Meu intuito não é
"aparecer" desta maneira. Disponibilizar uma obra on line é
reduzir muito a possibilidade de vendê-la. E não tenho a mínima intenção de distribuir meus livros. Vivo disso, assim como um advogado, um engenheiro ou um medico. Relembrando Cacilda Becker: "não pecam para eu dar a única coisa que eu tenho para vender". Alem do mais, minhas ultimas obras tem sido publicadas pelo nossa Editora (minha e de meu companheiro Urhacy Faustino) - Editora Blocos - e é muitas vezes com o dinheiro da venda de nossos livros -- meu e dele -- que financiamos outros projetos culturais. No fundo, às vezes, pagamos para trabalhar...

Casa de Arabella - Algo que também tem a ver com profissionalização: acredita que pode-se formar um escritor?
• Leila - Você está falando de formação profissional? Acho sim.
Muito da técnica pode ser aprendida. Sou autodidata, nunca
tive professores, mas adoro dar oficinas de criação e cursos
de roteiro de televisão. Se tivesse pessoas que me passassem dicas ou me orientassem adequadamente, a trajetória podia ser menos cansativa e mais animada, em determinados trechos...

Casa de Arabella - Se você fosse convidada a dar uma aula sobre como escrever, como seria?
• Leila - Eu sou sempre... Acho muito divertido. E o pessoal
também. Já tive alunos "ilustres" junto com "donas-de-casa" e
crianças, gosto de turmas heterogêneas. Não há uma formula
para se dizer quem-deve-escrever-como-e-o-quê. Acho que
importante, uma área como esta, é mostrar que a criatividade
é um campo muito amplo e que tudo é permitido. Feito mansinha de modelagem, em mãos hábeis. Só que no caso da literatura, o comando é dado por outra mansinha modeladora: a encefálica. (risos). Se, pela própria terminologia, imaginação é magia, dá perfeitamente para a gente aprender e ensinar um pouco de efeitos especiais...

Casa de Arabella - Qual o seu processo de criação? Existe rotina?
• Leila - Não. Na verdade escrevo quase que dia e noite. Na há
rotina que resista a esta longa jornada de trabalho... É preciso
mudar sempre para não cansar. Mas escrever é sempre mergulhar no inusitado, no desconhecido, no novo, daí dificilmente fatiga, a não ser quando é uma novela; mas aí, sempre há mais gente escrevendo conosco. O bom de diversificar estilos é que, quando estou prolixa, opto pela prosa; quando estou sintética, pela poesia (risos).

Casa de Arabella - O que mudou do primeiro trabalho, em 1965, até hoje?
• Leila - Além da conscientização profissional, a importância da
literatura em minha vida. Em 65 era só hobby, hoje é meu modus vivendi.

Casa de Arabella - Foi a partir dele, que você disse: "é isso, sou escritora!"?
• Leila - Imagina... Meu primeiro livro é "horrorível" (risos), embora, sem ele, não haveria outros. No entanto, mesmo entendendo a sua importância, demorei muito para assumi-lo
em minha vida. E do primeiro para o segundo livro, o intervalo
é de onze anos (76). Eu nunca pensei em adotar a literatura como profissão; mas... um dia sai do departamento jurídico do Sindicato onde eu trabalhava e pedi um mês de ferias aos meus colegas, com os quais eu ia montar um escritório. Na minha cabeça, um mês era tempo suficiente para eu acabar de escrever um livro que eu tinha começado, e que nunca acabava por falta de tempo. Bem: foram as ferias mais longas de minha vida, pois nunca mais voltei para a advocacia.

Casa de Arabella - Os ciclos de poesia estão relacionados a momento diferentes em sua vida ou tem algum outro significado?
• Leila - Os ciclos surgiram mais ou menos recentemente, quando eu vi que havia muitos temas recorrentes na minha poesia. O primeiro deles foi o "Ciclo Infantil", publicado no meu livro: "Silencio Relativo" (77). Senti necessidade de nomear esta serie, para que ela ficasse bem caracterizada. Depois disso, outras reuniões foram surgindo, enfocando os assuntos mais presentes na minha obra. E vieram: o ciclo ditaduras, o esotérico, o ecológico, o em poucas palavras, etc. O mais recente é o ciclo micreiro (ou da Internet)...

Casa de Arabella - Quem são suas referências literárias?
• Leila - Os letristas da MPB... (Risos) Em 70 a gente ouvia muito mais musica do que lia livro, até porque havia a tal da censura previa. Acho que minha poesia tem muito deste diálogo coloquial. De qualquer maneira como sempre li muito podia citar dezenas de poetas. Na verdade, gosto dos clássicos, dos românticos, dos concretistas, da geração 45, dos tropicalistas, dos pós-modernistas... Enfim: em matéria de música e de poesia eu sou bastante eclética.

Casa de Arabella - Que novos escritores você indicaria?
• Leila - Os novos. Com a editora, tenho o privilegio de receber  material de gente praticamente inédita e de estar sempre em
contato com o que ainda nem foi publicado neste pais, um material extremamente vivo, inquieto e forte. Há poetas, contistas e ensaístas EXCEPCIONAIS. É um privilegio lê-los e, mais ainda, ajudá-los a editar seus livros.

Casa de Arabella - O que é popular e o que não é popular? Cultura de massa e cultura mais elitizada. 
• Leila - Popular dirigido ao "povo" ou popular de popularidade?... Acho que o formato televisivo é feito para ser popular com o povo (leia-se população). Ou o radio. Até o cinema não é mais tão popular pelo preço das entradas.

Casa de Arabella - Novela é popular, teatro não, pagode sim, MPB não, etc. Para você, que escreveu de um ao outro, o que muda?
• Leila - Eu não faço esta diferença quando escrevo, embora tenha consciência de que meu publico alvo é a classe media, porque a pobre não lê (a maioria é analfabeta), e a rica, tem outras ocupações, ou mais "lucrativas" (economicamente falando) ou mais "colunáveis". É a classe media a quem me dirijo, até porque ela é a mais rica de contradições: abrange desde o casal que compra livros a metro para "decorar" a casa até o internauta que faz vai a um motel virtual para fazer sexo...

Casa de Arabella - O que há de verdade sobre alienação e analfabetismo cultural no Brasil?
• Leila - Bem, acho que uma sociologia responderia esta pergunta melhor. Mas, do meu ponto de vista de cidadã, eu acho que a alienação é gravíssima, porque independe de alfabetização. Um analfabeto na certa é um alienado até pela sua própria condição de não saber ler ou escrever; mas tem muito doutor também alienado. Então, enquanto o analfabetismo é facilmente detectado e, com um pouco de esforço de todos, pode ser extinto ou bastante diminuído, a alienação é mais difícil, pois depende de mudanças radicais na estrutura sócio-econômico-politica do país, o que não interessa `a microfísica do poder.

Casa de Arabella - Sobre o projeto SET, pode falar um pouco sobre ele?
• Leila - A idéia foi de Urhacy Faustino, e ela surgiu dele ver a
minha batalha para conseguir filmar um roteiro meu, adaptação do belo romance do Paulo Jacob, "Cassianã". Fiquei onze anos com este projeto -- difícil pela linguagem e por uma serie de entraves -- e, até hoje, ele jaz na gaveta. Bom, o Prêmio Set seria uma loteria comum: daria os mesmos prêmios que a sena ou qualquer outra loteria, só que a renda se reverteria para a realização de 24 novos filmes nacionais, 12 longas e 12 curta-metragens. Desses, um filme seria feito coletivamente pelos formandos de universidades federais e estaduais de cinema e interpretação, para promover um intercâmbio entre universitários, dando inclusive oportunidade aos alunos de ingressarem no mercado, de imediato.

Casa de Arabella - O que falta para acontecer?
• Leila - Assinatura do Ministro da Cultura. Fernanda Torres, no
auditório de O Globo, ao ser inteirada do Projeto, disse em público, para um auditório repleto, que essa idéia era genial. Porém, todavia, entretanto, o projeto está emperrado nas nos
gabinetes de Brasília.

Casa de Arabella - Por que a importância de se dissociar, no projeto, o patrocínio de outras empresas? Justamente para não se adequar ao mercado? Ao que é consumível?
• Leila - Não dissociamos. Apenas desvinculamos as verbas
privadas e publicas do projeto, até porque elas, na prática, são difíceis de serem conseguidas. Alem do mais, como proposta ideológica, é lindo ver as pessoas voltadas para o cinema, ganhando triplamente com isto: em dinheiro, em cultura, e tendo a alegria de patrocinar, apenas com a compra de um único bilhete, o desenvolvimento de toda uma industria em ascensão.

Casa de Arabella - Da nova safra de filmes nacionais, aposta em algum que leve o Brasil pela Quarta vez consecutiva à disputa pelo Oscar?
• Leila - Calma... não vamos nos precipitar, ainda tem muito filme bom para aparecer até o ano que vem...

Casa de Arabella - A Vida é Bela ou Central do Brasil?
• Leila - É bela, mesmo com a Central do Brasil... "Eu sei que a vida devia ser bem melhor e será'/ mas isso não impede que eu repita:/ é bonita, é bonita e é bonita"... Salve, Gonzaguinha!

Casa de Arabella - Por que gatos?
• Leila - Por que filhos?

Casa de Arabella - Várias vezes eu li depoimentos de escritores falando do modo como viam os escritores antes de se tornar um, de modo geral, rodeado de mitos, como um ser especial e no final, a surpresa de que são seres comuns. Para concluir: algo sobre a
pessoa Leila Míccolis e mais algo para quem está querendo apostar nessa profissão: ser escritor.
• Leila - Cada ser é especial, porque único; mas todos somos comuns, com as mesmas necessidades, carências, sustos e surtos... Não importa se escritor, ator, pintor ou tecladista. Acho que a Geração Poética de 70 desmitificou essa postura do escritor como o todo poderoso senhor da sua torre de marfim. Levamos poesia aos bares, às ruas, aos metrôs, às barcas, às praças publicas, aos palcos, mostramos que as pessoas que nos ouviam podiam (e muitas vezes eram) poetas sem saber, fizemos varais e chuvas de poesia, vendemos nossos livros de mão-em-mão, interferimos no processo de edição e distribuição das nossas produções, e aprendemos muito com toda esta abrangência. Acho que é isto que diria a quem quer ser escritor: não se restrinja a apenas colocar no papel ou digitar no computador os seus textos. Como Torquato Neto já dizia, "escrever é apenas a ponta de um iceberg"; entenda, pelo menos um pouco, de todo o processo editorial, uma arte à parte; ouse enveredar por vários caminhos literários, mesmo que você se sinta a principio perdido; seja sempre sensível a criticas construtivas, aprenda sempre com elas; e, principalmente, resista: não desista nunca de seus sonhos.