Culto aos mistérios do passado
na vivência do mundo de agora
lembranças da encarnação no Sul da Índia (como Tamul Nadu) com reflexões místicas sobre sua vida atualCOLUNA QUINZENAL DE CLARISSE DE OLIVEIRA
autora do livro “Mistérios” (Ed. Europa)
250 ANOS DEPOIS...
Há 250 anos atrás eu percorria um caminho batido em mato raso, do templo, onde eu servia, à minha casa de adobe: ia e vinha, não todo o dia, mas às vezes....
Na adolescência, eu gostava muito de ir para a casa de campo de meu padrinho Gaspar, em Barão de Javary, caminho de Miguel Pereira. Quando estávamos lá, comíamos de pensão de uma senhora que morava em Governador Portela. Certa ocasião, tínhamos um compromisso em Miguel Pereira e como a refeição demorava, eu me prontifiquei em ir buscá-la. A ida à Governador Portela foi sem problemas; na volta é que, exatamente no meio da estrada que ligava Javary à Portela, subiu do lago Itamaracá um bando de capivaras. As capivaras que vejo aqui no Rio de Janeiro e que habitam as margens da Lagoa Rodrigo de Freitas são pequenas, mas, os bichos que pularam do baixio do lago para a estrada, chegavam até minha cintura
– eu tenho 1,51m. Parei na Estrada com as vasilhas de comida na mão, me perguntando:
– "O quê fazer?" Mas, não sei porque, achei que não iam me fazer nada e, resoluta, passei pelo meio do grupo... Nada aconteceu e cheguei "sã e salva" em Javary.
Penso em seguida em meu outro caminho do Templo à casa, da casa ao Templo... a estrada que nunca esqueci! A vida que levei para o Espaço ficava nesse trecho de caminho: a ansiedade para o que poderia me aguardar no templo, com os sacerdotes me ensinando a cítara, a batida dos pés ao som do tambor, o sânscrito das preces e dos mantras, e a ansiedade para abraçar minha mãe e os sobrinhos no conjunto pobre das casas brancas de adobe...
O elefante é tido como animal de excelente memória. Acho que ele vive uns 70 anos, por aí, pois é uma imensa massa de carne, naturalmente dificil de manter-se... Imagino o mundo que resta em suas recordações, enquanto observo um sol indeciso que faz umas manchas de luz no chão de cimento em volta da piscina, para logo depois as nuvens escurecerem o jardim de novo. Se um bando de elefantes – Yanai – ali, no Sul da Índia, atravessasse o caminho, saindo da mata para o deserto, e me surpreendesse, imagino o que levariam eles na memória através dessas travessias...
Das lembranças que ficaram da minha encarnação no Sul da Índia a mais persistente é a Estrada.
A Estrada não era larga, não tinha muito mato crescido nas margens, era de terra, e ficava entre o Templo no qual eu servia e o pequeno aglomerado de casas de adobe pintadas de branco e com teto de palha, onde residiam membros de minha familia.
Quando eu recebia licença para ir à casa de meus parentes, eu percorria a Estrada, remoendo as atitudes dos mestres das bayaderas, meus mestres, e os últimos acontecimentos no templo, meus encontros com o namorado.
Quando eu voltava pela Estrada, rememorava o que acontecera nas vinte e quatro horas que passara lá, na aldeota.
Eu aprendia tocar um instrumento de cordas – telugo – o sânscrito para os nomes sagrados, e o significado das atitudes dos deuses para as danças. As doze horas eram poucas para o movimento do Templo, por isso, só os mestres meditavam.
As Devadases, refletindo enquanto trabalhavam no templo, "meditavam" sobre os ensinamentos dos mestres: cada atitude da dança sagrada correspondia a uma atitude e a um posicionamento do deus na Existência, na Criação. Assim, um dia inteiro e metade de uma noite, meditava-se sobre as posturas humanas em relação ao seu simbolismo nos deuses – essa, mais a lembrança da Estrada, nunca me deixaram ter o prazer de uma meditação, até seu desdobramento no Infinito e a eclosão do Êxtase.
Minhas meditações de agora são interrompidas pela invasão desses acontecimentos. As posturas dos deuses me levaram a descobertas maiores sobre a colocação dos deuses no Universo, assim como o Cristianismo de Krishna no Bagavad Gita me levaram ao Êxtase da Plenitude do Amor Divino.
E novamente a Estrada, que me consolava dos reveses desta Vida, e que nunca deixou de me dizer: – Agora, você está indo para o templo, para a paz dos deuses, para o interesse dos mestres em despertar em ti a Verdade Divina. E, quando uma contrariedade aparecia no Templo, eu ia feliz pela Estrada, para o carinho de uma mãe evoluída e maravilhosa, e, o mais importante, que me amava.
Todas as medidas, todas as classificações e julgamentos referentes às competições são ilusórios.
Competição traz julgamento momentâneo. O inexplicável, como é a Eternidade, pode se enquadrar em um segundo, porque também é inexplicával.
A Filosofia Transcedental não compete com a Sabedoria. A Sabedoria vem do Homem Eterno.
Entre os Incas, no Peru, havia um Templo que possuía sacerdotisas. Nesse Templo havia um ritual de sacrifício humano: colocavam algumas das mulheres em um poço gelado, ao amanhecer – e o frio nos Andes é terível – e elas ficavam ali se debatendo até o entardecer. As que conseguiam sobreviver estavam salvas para sempre. A Vida pode se comparar a esse poço gelado: quem consegue sobreviver tem a oportunidade de vir a compreender a Verdade da Eternidade.
Naturalmente que, na Eternidade, todos sobrevivem – uns para mais adiante, outros mais para atrás. A Eternidade não pode ser medida pelo Tempo. A compreensão da Eternidade aloja Deus.
Só a Sabedoria Divina salva o homem. Todos têm, em si, resquícios das Vidas passadas; mas, como a Humanidade mede e classifica tudo, somente percebe o que está vivendo no momento atual; quando o humano tem um cérebro enfermo ou teve um princípio de vida atribulado, tenta consertar o que, no presente, é julgado como a causa de tudo.
A vastidão da Criação poderia, se estudada para perceber a Verdade do Eterno, ajudar aquele que se debate no momento em consequência de dívidas passadas em suas encarnações. A matemática, a álgebra têm condições para medir o Universo e se fundir à Eternidade. O maçon, ele mesmo, não é só o pedreiro, o construtor do Universo, ele mesmo é matéria do Cosmo e deve ter consigo que, para ser um suporte de uma Obra, precisa estar muito bem recortado, pois um só tijolo mal encaixado, deixa um muro em perigo...
As experiências das Vidas Passadas – passadas no sentido do humano, pois a Eternidade não tem passado, presente nem Futuro – mas as experiências –, deveriam ser sacratíssimas, pois cada um de nós é complemento da Obra Divina; e também deveria ser ensinado ao Humano o quanto ele vale para ele mesmo.
Se o humano não encontrou Amor na sua vida de agora, sendo responsável pelo valor que possui, ele tem que ser zelador dele próprio... ele é o responsavel por ele.
Os pais devem ensinar Responsabilidade aos filhos – responsabilidade para com a Natureza e para com os animais. O Planeta tem o bastante para alimentação, por quê então sacrificar os indefesos animais? Sacrificar galinhas para serem melhor poedeiras, tirar da vaca prenha um filhote para ter a carne mais tenra? Caçar e pescar por pura diversão predatória?
Eu assumo diante da Humanidade, minha lembrança de encarnações passadas, principalmente a última.
Eu assumo!
Na confluência das Estradas Desconhecidas dos homens, no Coração do Cosmos, existe um Castelo, onde a Rainha e Maga concede a Iniciação aos Cavalheiros que souberam honrar sua Espada.
A Espada corta o Cosmos de cima abaixo, passa pelo Castelo, e avisada a Maga, ela aguarda o Guerreiro, para a Iniciação.
O Coração é o Órgão do Poder de Deus
– ele, o Coração, é o próprio Deus. Os cavalheiros têm que se transformar, se transmutar, infinitamente, para serem admitidos no Castelo.
As Vias Desconhecidas que levam ao Centro do Universo não são inacessíveis ao Homem. Os homens têm que ser Cavalheiros, Guerreiros Justos, honrrarem a Espada que é a Revelação de Deus, e com a Espada fazerem desaparecer as impropriedades para o Divino.
Em que pensava o compositor Richard Wagner quando compôs a Cavalgada das Walkírias?
Por entre as Brumas do Mistério, uma vez surgiu uma mulher em sua armadura, montada em um cavalo castanho: ela se ajoelhou e pediu a Iniciação à Maga: Jeanne D'Arc.
As guerreiras cortam o Universo em uma explosão de som que desencanta nossas reservas psíquicas; e são somente passagem
– eternas, porque surgem e desaparecem aos poucos
– e são apenas cavalgada estrondosa, sem começo e sem fim, um Eco Indefinido do Cosmos.
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