Culto aos mistérios do passado
na vivência do mundo de agora
lembranças da encarnação no Sul da Índia (como Tamul Nadu) com reflexões místicas sobre sua vida atualCOLUNA QUINZENAL DE CLARISSE DE OLIVEIRA
autora do livro “Mistérios” (Ed. Europa)
TEMPLOS
ACONTECEU
Ela gostava de ritmo... a batida do tambor a deixava louca...
No ritmo, ela recriava... o rítmo podia trair uma parte de nossa personalidade: a Sedução, o impacto ante o homem, ela nunca perdia.
Mesmo sem o tambor, ela seduzia.
Também seduzimos para a Morte. A Morte é um campo que atrai tanto como o ritmo, porque a Morte é um "local" onde cada um acha seu verdadeiro lugar.
Como ele a amava, enviou-a para a Morte, para o lugar que ele escolhera para ele, na Morte; assim, ela seria só dele, na Morte, só dele e de mais ninguém.
Mas, o mataram como assassino, e como ele não escolhera, não encontrou seu lugar na Morte, vagando só, na solidão de mais um s éculo.
Enquanto isso, ela renasceu. Mas, continuaram separados: ela na Vida e ele na morte.
Mas, a Morte não se modifica como a Vida... É verdade que ela, a Morte, tem muitos lugares, mas o nosso lugar na Morte continua reservado, só para nós, garantido para quem amamos e queremos reparti-lo só entre Nós Dois, sempre, porque a Morte tem consideração e fidelidade para conosco.
Assim, continuamos juntos, porque, como a Morte habita a Vida, nunca nos separamos.
OS TEMPLOS QUE ABRIGAM O FOGO
Jamais se construiu Templo para a Humanidade como o Vulcão Vesúvio.
De qualquer lado que se olhe o Vesúvio, ele é belo. Ele é um pintor, e não cessará jamais de pintar, à sua volta, paisagens como as da Baía de Nápoles e adjacências.
O Vesúvio é um templo magnifico e eterno, a Pintura escolhida por Deus como tela para a humanidade do Planeta Terra.
Estranhamente, o Vesúvio me passa que, em um futuro, ele, o Vulcão, predominará sobre as paisagens do novo Planeta.
As Horas, os momentos, tudo que em torno do Vulcão me circunda, não cesso de olhar para ele, porque jamais contemplei montanha-templo tão bela, ao mesmo tempo como Natureza e Templo.
Tudo que esteja à volta de um Templo, passa a fazer parte dele, desse Templo: o Partenon, se sobrepuja à Atenas. Mesmo semidestruído, o Templo à Deusa Palas Atena é, inteiramente, a própria cidade de Atenas.
O Vesúvio restará, quando este Planeta se recolher dentro de si mesmo, para desabrochar como outro astro, para nova Civilização.
O Vesúvio reservará para nova Humanidade o Mistério de um passado eternamente revelador, e de um futuro, para os já Iluminados habitantes do novo Planeta, os quais sentirão, com suas almas mais sensíveis, a saudade indefinivel da continuidade da vida fechada na mão de Deus.
AINDA O FOGO...
Um Templo somos nós, nossa Alma é o Templo do Espírito.
A Vida nos cobra de várias coisas... na Vida, somos provocados, agredidos, amados... e, ainda assim, não podemos deixar apagar o Fogo do Espirito, Fogo Sagrado, pelo qual temos que zelar constantemente, em todas as situações.
O Espírito é a lembrança de Deus na Terra.
Também, como pedreiros do Templo Vida, temos que estar vigilantes constantemente, vendo se uma parede está perfeita, se o chão está uniforme... sem nenhum obstáculo que faça alguém cair e se machucar.
Nas Antigas Grécia e Roma existiam as Vestais, sacerdotisas zeladoras do Fogo da Deusa Vesta.
Na Grécia, se a sacerdotisa deixasse apagar o Fogo Sagrado, era enterrada viva, como provação.
Nós, zeladores do Fogo Sagrado, o Fogo de Nossa Percepção Espiritual e usando o Fogo "constantemente", sabemos e sentimos que, um descuido nosso, abre uma entrada sem segurança para as invasões daquilo que pode prejudicar nossa Estabilidade Espiritual na Vida da Alma na Terra.
O Sexo, a Fonte da Vida na Terra, traz uma satisfação semelhante à Percepção Espiritual, quando ela nos visita em um estado perceptivo, na Devoção — sem o sexo humano e o correspondente na Natureza não haveria existência no Planeta.
O Sexo é outro Fogo Sagrado que temos que zelar, para que esta Fonte de Vida esteja na Terra contemplada por nós como seu Atributo de Poder de Existência. Materialmente, ela é tão sagrada como o Espírito, ambos são Fontes de Poder Ser, e "isso" é a nossa Vida.
O Espírito demanda Dedicação; o Sexo, zelo pela pureza em seu Poder Ser.
Mesmo que não seja um ato usado para gerar, sua satisfação é um complemento entre os que amam e a beleza das flores, dos espetáculos no Céu, o perfume das árvores frutiferas, o encanto dos animais, com seus gritos selvagens de alegria, o canto dos pássaros, a dança dos animais que vivem nas águas, tudo isso deverá ser zelado, porque é o Éden, o Paraíso reencontrado.
O CLIMA DA CAPELA
Shakespeare:
"Próspero: Nós somos feitos da mesma matéria dos sonhos".
Havia um drama de sonho e uma realidade ainda não definidas entre o homem que rezava e a atmosfera de religião que a Capela encerrava. Próspero percebeu que era preciso estar na atmosfera da Capela e não "na Capela".
O jovem homem não sabia ainda como reunir os fragmentos esparsos do clima devocional da Capela, e o que era "o clima devocional da Capela"; e mais: o homem não sabia como entrosar sua alma no que ele percebia.
Próspero divisava sua alma equiparada a si mesmo, mas não sabia como viver com essa "equiparação" em meio à atmosfera da Vida: seu trabalho e ajuste social.
Ele, o homem, tinha completado o que desde sua infância se agitava em sua consciência, sem que ele mesmo soubesse como enquadrar isso no conceito alheio, em razão do que esperavam dele.
Próspero tinha sempre diante de si um jovem mais novo que ele, moreno claro, de olhos azuis e que ele sentia que era ele mesmo, mas vindo de outro lugar, de outro país.
Esse jovem estava "completo" e Próspero sentia que se ele se refizesse no "jovem", ele estaria completo também, em um aspecto de magia que mantinha todas as suas fases energéticas em constante prosperidade, e que, mesmo que aparentemente Próspero decaisse ou perdesse, o poder do jovem "fantasma" estaria sempre intocado, pois era mais forte que a matéria do planeta de sua energia.
Ele tinha uma vaga idéia: via-se sempre em algum lugar sem muito progresso material e industrial, quase campestre, em uma casa branca, com muro de pedra e, dentro dela, um homem idoso que lhe sorria com uma fisionomia bondosa e um olhar de grande perspicácia e sabedoria. Esse lugar lhe lembrava litorais da Grécia.
"ANTRO DE MISTÉRIO"
Mesmo os templos de mármore de Grécia e de Roma exibiam para aquele "antro de mistério", que escapava à percepção dos iniciados, até porque, para ele, não era muito chamada a atenção dos noviços e das sacerdotisas em atividade no templo.
Era esperado, simplesmente aguardado, que a percepção despertada do mistério no "antro" se produzisse.
A atuação dos sacerdotes passava a ser diferente no desempenho de suas funções. Esse despertar nos servidores dos deuses era a supressão das suas almas para uma área não revelada, porque essa área era "carne" dos deuses. Uma vez consignados a ela, à essa área, os sacerdotes eram praticamente suprimidos das funções normais do dia a dia do templo.
Esses sacerdotes eram recolhidos para manterem a Emanação Divina e zelarem por ela.
À medida que a Emanação Divina ia-lhes revelando a verdade da sintonia com os deuses, os sacerdotes iam se furtando ao contato com o povo em geral.
A manutenção da Emanação Divina era o sacerdócio de um templo.
Por uma precaução ja intuída, esse ofício sagrado era totalmente oculto ao povo.
O desperto na "carne" dos deuses era invejado e já passava a sofrer por aqueles que, advinhando uma posição diferente neles, não os tratavam nem os recebiam bem.
As sacerdotisas eram mantidas na área da Intuição, pois já estavam despertas para os mistérios divinos.
As pitonisas tinham acesso à áreas que lhes descorinavam panoramas, como suas vidas passadas, pois, elas podiam também pressentir as vidas passadas das consulentes.
Devassando as vidas passadas, as pitonisas trabalhavam em áreas "entre a vida e a morte" e era justamente isso que dava estrutura ao seu trabalho de sacerdotisas.
Os templos eram uma porta para o Céu; e, nos humanos, os dois ouvidos serviam: um, para ser dedicado à vida do individuo, o outro para, constantemente, estar em recepção à Divindade.
VOLTANDO Á ÍNDIA
O Mestre das Bayaderas subiu para a Torre, para uma inspeção.
Apesar do forte calor no Sul da India, o Templo, mesmo com a pedra usada em revestimento e escadaria, estava úmido em suas paredes.
A bayadera sentiu que o limo negro enfraquecia seu Espírito — seu coração batia frio, como a nuvem que cobria a Lua Crescente.
Que importa se, à nossa volta, sentimos que o Amor está diferente e que não podemos curvá-lo com nosso corpo, prendê-lo, e só soltá-lo depois de nos satisfizer? Que importa se o Amor se apresente não nos dando a certeza de amanhã retornar?
A incerteza do Amor danifica a Vida.
O bater dos pés da bayadera para fazer soarem os guisos imita a dança do deus Shiva, o Nataraja Guru, e isso soa no Universo, mas não seca os vestígios das lágrimas que correram entre os seios suados da Devadase.
Quando vier a Lua Cheia, o Céu poderá estar mais limpo, mas não haverá Paz para a sacerdotisa que não recebeu dos deuses a certeza de que seria amada outra vez.
AS ENTRANHAS DO ESPÍRITO
As Entranhas do Espírito são as mesmas do Cosmos.
Os órgãos do Espírito são intestinos esticados, dando voltas e mais voltas pelo Cosmos.
Cosmos são as entranhas dos Universos, glândulas das Galáxias.
Assim como os humanos tiveram ancestrais animais, o Espírito teve ancestrais cósmicos, galácticos.
As bactérias vieram à superficie da Terra expelidas pelos vulcões, trazendo o princípio da Vida. Essas mesmas bactérias, que têm o principio da Vida, podem nos destruir com possantes infeccções.
Em relação ao Cosmos, o Espírito, sendo limpo e higienizado pela Divindade, elimina as bactérias cósmicas pois tem poder de dificultar a contaminação.
Os Santos e Evoluidos eliminaram as Distâncias, porque fizeram prevalecer a Atmosfera Cósmica.
"Desejo continuar no Templo", disse minha Alma aos Espíritos que zelavam pelo Templo, na Índia — "minha familia não pode vir aqui e nada receber"; "sou responsavel por ela".
Essa força foi sustentada século e meio.
Nascida com sérios problemas de saúde, como se os órgãos humanos não estivessem compatíveis com a encarnação subjugada à continuação da Vida no templo, aguardei, nas vivências do mundo de agora, o momento em que pude me desprender do imenso oratório católico de madeira negra, entregando-me, enfim, totalmente, à Atmosfera do Templo Hindu.
Fraca e debilitada de saúde, quando subi os baixos degraus do Templo e o reconheci no impacto de minha memória transcedental em suas paredes de pedra, ali, enfim, descansei para continuar, em Espírito, a pequena interrupção entre a Vida e a Morte.
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