Culto aos mistérios do passado
na vivência do mundo de agora

lembranças da encarnação no Sul da Índia (como Tamul Nadu) com reflexões místicas sobre sua vida atual
COLUNA QUINZENAL DE CLARISSE DE OLIVEIRA
autora do livro “Mistérios” (Ed. Europa)
Nº 40 - 23/6/2011
(próxima: 23/7/2011)

MULHER: PUREZA, SANGUE, EVOLUÇÃO

PUREZA

Por acaso, folheando um livro sobre os Cátaros, li que no tempo em que a Igreja Católica perseguia o Catarismo, uma jovem, en uma rua da Europa antiga, foi abordada por um rapaz enamorado dela. A jovem o repeliu, alegando que desejava ser sempre virgem.
Um padre católico, ouvindo aquilo, ordenou a prisão da jovem, pois suspeitou que ela pertencesse ao Catarismo.
Os cátaros, cultivadores da filosofia ou crença nos dois deuses, o Deus Bom e o Deus Mau, evitavam o casamento e a procriação, pois na crença deles, o mundo era criação do Deus Mau.
Como consequência dessa abordagem, a jovem que disse desejar permanecer virgem teve seu martírio na fogueira, castigo usado contra os cátaros, estes, segundo a Igreja "piores do que os hereges".  O povo surpreendeu-se com a coragem da jovem em meio ao fogo: ela não gritou e manteve-se em uma atitude de êxtase espiritual até o final que as chamas davam aos que, naquela época, eram submetidos a essa morte.
Virgindade, para muitos, significa Pureza.
A pureza não pertence à carne, mas ao Espírito.
Um Espírito impuro pode habitar um corpo virgem: virgem de quê? Do prazer da sensualidade. E a Sensualidade pode ser Pura. Tão Pura que, na sua exaltação, ela pode abrir-se como Santuário para a Divindade, e esse encontro, esse matrimônio da Pureza Sensual com a Divindade, pode conceber, dar à Luz ao Amor Imensurável.


flor de lótusflor de lótusflor de lótus

 

SANGUE NA ÍNDIA

Nadaja não morreu velha. Nadaja morreu com uns dezoito anos de idade. Mas ela tem resquícios de velhice.
Nadaja era uma mulher forte, agressiva, e, apesar de moça, possuía rancores de uma mulher idosa, vestígios de uma velha com profunda queixa da vida.
A sua filosofia combativa é confusa: ela entrevê entre as fagulhas das chamas no Espírito uma sabedoria nata, que foi o entrechoque do seu confronto com a Vida.  Bela, feia, suave, doce, sensual, caridosa... eram as personalidades que brigavam entre si.
Nadaja era tão forte que afastou sua alma, por não querer compreendê-la. A Alma vagava, suplicando entrada em seu Espirito, e Nadaja sempre a repelindo.
A Alma abandonada procurava ajustar-se ao Espírito que era Alma de uma Mônada. A Alma da Mônada não era como a integridade do Espírito com a Mônada; era a chama de uma vela, em que se coloca a mão na frente da chama bruxulerante, porque a chama ainda não tem a vida firme. O mesmo acontece com aquele que enfrenta uma encarnação repleta de disparidades dificeis de conviver.
Nadaja era dividida, repartida, por isso não muito amiga de ninguém. Ao mesmo tempo que se tocava com os sofrimentos dos conhecidos, nunca indiferente com os que sofriam, não se apegava...  por isso teve medo de se casar, de se comprometer, até mesmo de ter filho.
Nadaja tangia as cordas da Solidão, como se esta fosse uma lira feita para dedilhar uma composição inspirada em seus ciúmes, em suas paixões, em seus amores não-correspondidos...
Ela amava o espírito do homem que a abateu por ciúmes, e os ciúmes desse homem era como uma coberta cujas pontas Nadaja levantava, para ver se existia ainda amor por baixo...

Você pensou que o sangue
ia me afastar de ti.
O ciúme
é outra faca
que os Dirigentes do Universo
podem usar de diversas maneiras...
A tua dor
acaba nada valendo
diante do ciúme,

que ditaria nosso duplo Destino.
Você continuou com os Grandes Espíritos,
mas sofrendo pelo que via eu sofrer.
No interior de mim mesma,
dobrando meu orgulho,
sem atentarem para a piedade sentida aos
necessitados e aos animais sofridos,
é que os Grandes Dirigentes
se sentiam aptos para me transformar,
nos separando.
Para eles é indiferente que eu ainda te ame,
e de ti tenha tanta saudade...
A Índia
nada pode fazer por n ós dois.
Quando voltei ao Templo em que
               servi,
foi para devolver o Sangue
que ali deixei,
na Esperança de que por esse Sangue,
através doTemplo, propiciasse nosso reencontro
na estrada da vida.
Ainda estamos separados...
O ciúme é o verdadeiro cutelo,
e o ciúme não pode ser esfacelado
       como nosso corpo,
nem pode recriar outras veias que conduzam
o sangue perdido
no Altar dos Deuses.

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ADORÁVEL DEMÔNIO

O homem pimitivo e seu "amor primitivo" — misto de desejo de sexo e adoração pela mulher escolhida, misto também de "desejo de sexo". Isento de interesse de projeção social, e ainda que a mulher tenha cultura, o homem tem o trabalho que o sustenta, mas embala a mulher sedenta de um "berço" afetivo, pois a família dá sempre mais esse embalar ao filho homem.
O homem primitivo tem "a morte" nas mãos, pois ele não tem outra escora de sociedade que ampare a mulher da agressão. Como disse Oscar Wilde, mata-se "o que se ama".
O homem de Sociedade Refinada afoga a paixão traída, ou "fugida dele", com bebida alcoólica, produtos que entorpecem os sentidos, viagens... enquanto que o primitivo, mata.  Naquela que ele mata, mata o sofrimento dele.
Um dos deuses, encarregado das "Reencarnações", deve ter sido traído, também, se alguma vez encarnou como humano, pois esse deus, anula o crime por paixão, e reencarna em um dos participantes do drama, ou nos dois.
Quando os dois reencarnam, se refaz "a cena" do drama; mas quando um só reencarna, digamos, a mulher, ela vê seu destino duplamente como castigo: os amantes fogem dela, o namorado de outrora, como alma no Espaço, ri dela... não uma só vez, mas muitas vezes, satanicamente, ele se satisfaz...  A dor que o traído sofreu uma vez quando reencarnado, ele vê que a causadora sofre muitas vezes...  Ele vê ainda aquela que vive no mundo estender-lhe a mão, suplicando-lhe ajuda, conforto para a solidão.
Adorável Demônio, quando a Alma do ex-amante afasta pessoas que atormentam a mulher com relação à qual ele ainda se sente possessivamente egoísta.
Pelas seções Espíritas, "ele" se comunica com ela, revive o passado, e ela agora, ciente de tudo, o coloca em um pedestal, faz dele um semideus...
Será possível que em uma existência vindoura os dois, reencarnados, se defrontem, avaliando mil coisas que a separação entre a Vida Humana e a Espiritual lhes desvenda agora?


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NOS TEMPOS DE AGORA

A minha encarnação nesta vida, no Brasil, deu-se em uma familia culta, porém não espiritualizada...
A incompatibilidade, entre a minha espiritualidade em confronto com a vaidade de meus pais, que cultivavam a sua posição social e tradição provocou uma solidão forçada, no meu modo de viver.
Aí, eu descobri, a sedução nas artimanhas do Espírito...
A Morte é um eco permanente na existência, mas tem o seu modo de sedução... e ela apresenta uma sedução que não tem o perigo de terminar nas Almas que se enlaçam suplicando em todo seu arrebatamento o complemento de tudo que lhes falta para a vitória tão almejada do existir...
A Alma é vaidosa... ela quer ser reconhecida pelo que produz, que é diferente do que os que na carne amam ser amados.
O Espaço, que acolhe as Almas desencarnadas, para após um estágio conduzi-las novamente à vida na Terra, não pensa na sua fome de Amor, e a Alma faminta, vê sua carne se deteriorar, deteriorando primeiro o Amor terrestre, que precisa da atração do corpo, em primeiro lugar... e após vem a velhice, que separa as Almas...
A sedução da Alma espiritualizada é a mais perigosa de todas; em primeiro lugar, é mais forte, depois, depende da Eternidade do Espírito, e nada mais lhe faz frente...
A nossa Evolução tem como objetivo a Iluminação, e além disso, tudo mais é Ilusão... mas, quanto tempo fica a Alma na doçura da ilusão de que o o Amor não tem nada que lhe possa destruir?
Nós somos Chipas de Deus — essa Chipa é a Razão do Universo e ela não abandona seu governo, pois é responsavel por isso perante Deus.

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